sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

A ânsia por "dar o furo"


No jornalismo, como na vida, aquele que primeiro divulga uma informação é visto com um misto de orgulho e inveja pelos demais. Deve ser por isso que raramente se consegue manter um segredo guardado. As pessoas têm uma ânsia natural por contar, compartilhar. Na imprensa, uma novidade bombástica é conhecida como "furo de reportagem". Dá o furo aquele veículo/repórter que publica a informação antes de seus pares.

Para os repórteres, isso era mais tranquilo antes da evolução dos meios de comunicação e especialmente, das redes sociais. Havia tempo para apurar a notícia, confirmá-la para só depois torná-la pública. Claro, era necessária uma certa agilidade para não ser ultrapassado pelos concorrentes, mas o público só sabia das informações pelos meios "oficiais" - tv, rádio e jornal.

Hoje, o próprio público concorre com os jornalistas. Nesse sentido, resta a esses escolher dentre duas opções: publicar a informação sem checar sua veracidade tampouco a fonte - na ânsia por "dar o furo; ou não se preocupar em ser o primeiro, mas aprofundar a notícia e ser o melhor a divulgá-la.

A segunda opção é mais segura, mas infelizmente é para poucos. Exige competência e qualidade, elementos um tanto quanto em falta no mercado atual. Então, sobra ao repórter "balaio", aquele que sai replicando qualquer besteira que lê/ouve, o risco de pagar micos homéricos.

Ontem, algum gaiato criou uma conversa falsa no Whatsapp entre Carlos Arini, funcionário do Avaí e o atacante Dagoberto, campeão brasileiro pelo Cruzeiro em 2014. Nela, o atleta aparentemente demonstrava desejo de jogar no Avaí, "o time do Guga" e viria na próxima segunda para assinar o contrato (veja a suposta conversa no final do post).

A brincadeira foi publicada no Facebook e ganhou corpo. Mesmo com indícios fortíssimos de ser uma fraude, muita gente acreditou, o que levou o autor a retirar a publicação do ar. Mas não foi suficiente. Ansioso pelo furo, o repórter Alisson Francisco, da RBS, replicou a conversa e ainda acrescentou um ar de mistério, com algo do tipo "não me perguntem como consegui nem quem é minha fonte".

Pronto. Estava no ar o primeiro mico da imprensa catarinense em 2015, que dificilmente será superado - ainda que, levando em consideração os "profissionais" que temos, não me arrisco a dizer que não teremos outro "furo" ainda maior. Alisson se limitou a excluir a conversa, publicando depois um quase silencioso comentário informando que era falso, Não vou acusá-lo de querer se apropriar da notícia sem citar a fonte verdadeira, concedendo a ele o benefício da dúvida de ter recebido de terceiro ao invés de ter "chupado" da internet a imagem, ainda que isso seja difícil de acreditar nos dias atuais.

Definitivamente, como um amigo comentou no Whatsapp - esse verdadeiro - trata-se da "polidorização do jornalismo catarinense". Em outras palavras, a necessidade de divulgar qualquer informação sem confirmá-la, apenas para ser o primeiro e dizer depois "eu já sabia e tinha avisado", como costuma fazer o jornalista que inspirou a expressão. Coitados. E coitado de quem os lê e acompanha.

Depois da gafe, dezenas de pessoas criaram conversas falsas e as publicaram. Desde jogadores que viriam jogar em Florianópolis (Dedé e Neymar foram alguns) até supostos relacionamentos com atrizes famosas tomaram conta da rede. Foi divertido, vamos aceitar. Menos pro Alisson Francisco, é claro.

Em tempo: se você deseja criar sua própria "conversa" com alguém, o site http://www.fakezap.com/ faz isso de forma simples (dica do Rafael Xavier).



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